Pipa é uma joia no Brasil

Foi a paixão pela praia da Pipa que me levou – uma portuguesa – a visitar pela primeira vez a Pousada Toca da Coruja. Bem no início da Avenida Baía dos Golfinhos, a rua principal deste vilarejo localizado em Tibau do Sul, o hotel de luxo quase passa despercebido ao comum dos mortais, tal é a forma como se mistura com a natureza envolvente. Assim, fui atraída pela recente distinção do Guia Michelin – a
primeira chave atribuída a uma unidade hoteleira no Rio Grande do Norte, que identifica a qualidade da estadia como muito especial – que me atrevi a entrar na Toca. O selo que reconhece hotéis de excelência que oferecem experiências únicas, valorizando o charme, o serviço e a autenticidade, elevava as minhas expectativas. Mas, confesso: não estava à espera do que encontrei. Um local verdejante, charmoso, com atenção aos pormenores, que convida o hóspede a desconectar a mente e a viver de forma lenta o presente. Quando se entra, o problema é querer sair.

Fundada há 34 anos, a Toca da Coruja surgiu de um sonho do casal Henrique e Heloísa Faria. “Éramos um casal apaixonado por natureza, querendo sair de São Paulo, de onde somos naturais, e ter qualidade de vida”, conta Heloísa, 61 anos, que recorda como ela e o marido descobriram a existência da pequena Praia da Pipa, um local perdido entre João Pessoa e Natal. “Nós ouvimos falar da Pipa numa visita ao
sul da Bahia. Já pensávamos morar em algum lugar de praia e a Bahia foi a nossa primeira opção. Mas, nessa altura, já lá estava muita gente, estava muito explorado, era muito mais caro. E foi lá que ouvimos falar de Pipa, que ficava num estado que, até então, a gente nem conhecia, que é o Rio Grande do Norte”.

O que ouviram sobre o vilarejo, não deixou dúvidas a Henrique, engenheiro agrónomo e um amante da natureza, de que tinha de conhecer o lugar. “Disseram-nos que era uma praia de pescadores, onde alguns estrangeiros estavam-se fixando; que era uma praia de surfistas e que tinha muito potencial”. Tudo isso o companheiro de Heloísa reconheceu de imediato durante a primeira visita. “O Henrique veio sozinho e ficou encantado. Ligou-me e falou “é aqui”. Eu vim para cá, sem conhecer, um mês depois”, recorda a antiga professora de educação física.

Sem nenhum dos dois ter experiência anterior em turismo, a verdade é que a mudança de vida correu tão bem que, depois da morte do companheiro, Heloísa ficou à frente dos destinos da Toca com as duas filhas do casal. “Aqui nós encontrámos a possibilidade de termos uma família e podermos estar em contato com a natureza. Deu muito certo! A gente tem uma família maravilhosa. Meu marido já é falecido, mas nós temos duas meninas incríveis, que trabalham com a gente também”, diz, apresentando-me Ísis, 34 anos, responsável pela gestão de reservas, e Flora, 31 anos, responsável por todo o design promocional deste charmoso hotel.

O projeto começou com a compra de um terreno de 25 mil metros quadrados, com uma casa, onde antes apenas existia “a lixeira de Pipa”. Cresceu, depois, aos poucos com dedicação e sensibilidade. “Nós tínhamos um quarto onde morávamos e que alugávamos. O que significava que quando saímos do quarto, ficávamos numa barraca. Então, no início o projeto foi indo bem devagar, até que, com os anos, a
coisa foi melhorando e nós conseguimos tomar algumas ações um pouco maiores”. Nessa época, Heloísa estava longe de imaginar que o percurso lhe reservava uma Chave do Guia Michelin, que iria premiar a excelência do serviço que oferecem.

Decoração charmosa, design colonial e materiais reciclados

Hoje, o hotel de luxo, que conta com vários prémios Conde Nasté e que se encontra no Guia Roteiros de Charme do Brasil, dispõe de 28 bangalós, divididos entre as categorias de bangalós de luxo e apartamentos especiais. Estruturas inseridas numa mata atlântica preservada e exuberante, com um design que evoca memórias das antigas fazendas coloniais da cana de açúcar e com uma decoração pensada ao pormenor e, sobretudo, escolhida para “não criar um impacto negativo”. Heloísa explica que “todas as peças foram compradas em antiquários e cada quarto é diferente um do outro” e exemplifica: “A madeira é reciclada, todas as portas são reutilizadas, nada foi construído sem um propósito”.

Cada acomodação está pensada para receber duas pessoas, com todas as comodidades: cama king size, lençóis de algodão egípcio e travesseiros de pena de ganso, ar-condicionado split, TV LCD, SKY HDTV, internet sem fio, frigobar e cofre, área privativa ao ar livre com uma banheira de hidromassagem ao ar livre e solarium privativo. “O nosso foco são os casais. A gente também não trabalha com crianças pequenas”, explica, salientando que também recebem famílias, mas que as convidam a ficar em alojamentos diferentes. Esta é uma prática para promover que o visitante “se conecte com a natureza, descanse e que tenha privacidade”. Afinal, “num bangaló privativo fica tudo muito mais gostoso”, pisca-me o olho a proprietária.

Mas a história da Toca da Coruja – nome que foi atribuído em lembrança das muitas tocas de corujas-buraqueiras que existiam na propriedade quando o casal a adquiriu – não se fica pelo romantismo das acomodações. Existem jardins a perder de vista, três piscinas ionizadas, uma delas aquecida, o SPA by Toca no meio verdejante da mata atlântica, o restaurante – Oca by Toca – que oferece uma gastronomia, que privilegia os produtos locais e os vinhos nacionais, tudo servido à luz de velas, um bar que aposta numa carta de cocktails de autor, um clube de praia, na Praia das Minas, a 15 minutos do centro de Pipa e cujo transporte é gratuito para os hóspedes.

Aqui tudo é pensado para a comodidade e conforto do cliente. “Eu fico diretamente na área operacional da pousada e converso com hóspedes todos os dias, então é muito importante as sugestões que fazem e o feedback que nos dão sobre as necessidades. Por exemplo, o primeiro espelho de corpo inteiro num quarto surgiu porque alguém disse que era uma coisa que fazia falta”, recorda com um sorriso.

Os prémios que incentivam a todos a ir mais além

Por isso, os prémios são tão importantes para esta família, que transformou um pedaço de terra no meio da natureza num refúgio de sofisticação e tranquilidade. Especialmente, os que são atribuídos através da avaliação dos viajantes, ou através de “avaliação oculta”. Como é o caso da Chave Michelin recebida em outubro. Mas o que será que faz realmente a diferença para quem fica na Toca da Coruja? “Eu acredito que o cuidado que temos com a natureza, é um diferencial. Acho que isso é uma coisa muito importante e que reflete o DNA da pousada”, começa Heloísa. “Outra coisa que eu acho super importante é a valorização que nós damos à cultura local e à comunidade. Noventa e cinco porcento dos nossos funcionários são de cá. Nós estamos deixando um legado para comunidade que é a formação de pessoas capacitadas”, salienta, para logo depois resumir que “a excelência dos serviços e dos funcionários” a par com “a localização e com o cuidado na valorização da cultura brasileira” são os pontos mais marcantes na atribuição das boas criticas dos turistas que os visitam.

Claro que ter uma administração feminina a gerir a Toca é também um fator a ter em conta quando se fala da arte de bem receber. “Isso faz a diferença. A mulher tem muita potencial, muita capacidade e é mais sensível. Ela está atenta a todas as informações e principalmente à delicadeza e subtileza dos detalhes”, confirma Heloísa, que se mostra muito satisfeita com a distinção do Guia Michelin, que coloca
o empreendimento entre os 20 melhores hotéis do Brasil. “Nós ficámos muito honrados, porque, em primeiro lugar, nós fomos reconhecidos dentro de um destino que a gente não imaginava ser visto e falado no mundo inteiro. Pipa é uma joia dentro do Brasil e tem coisas incríveis acontecendo aqui”, solta, com um brilho nos olhos. E vai mais longe, prevendo o impacto desta premiação na localidade. “Acreditamos que com este prémio as pessoas da comunidade vão sentir que é possível fazer melhor.
Então, eu acredito que venham mais chaves para o nosso município no futuro”.

O apoio e a importância do Preserve Pipa

Hoje, a pousada é referência em hospitalidade, charme, excelência de serviços e sustentabilidade, destacando-se pelo compromisso ambiental, com práticas sustentáveis que vão desde o tratamento de resíduos até ao uso consciente de energia e água. Esse cuidado foi reconhecido com o selo de certificação da organização Preserve Pipa, que reforça o papel da Toca da Coruja como guardiã da beleza natural
da região e bastião de boas práticas ecológicas. “Na verdade, hoje fala-se muito sobre regeneração e sustentabilidade. Na época usava-se o termo ecologia e fazia parte do nosso propósito de vida, então, a prioridade aqui sempre foi a preservação da natureza e da mata atlântica”, explica.

“Todas as ações educativas e ações ambientais em que a gente participa têm sempre o apoio do Preserve Pipa. É muito importante que o nome do Preserve Pipa seja conhecido no mundo inteiro, porque fez toda a diferença no nosso destino. Foi com o apoio do Preserve Pipa que hoje existem vários empreendimentos com o selo de sustentabilidade e a Toca da Coruja foi a primeira pousada do Brasil a receber o selo de ouro em sustentabilidade, então isso é um motivo de muito orgulho para gente”,
destaca Heloísa, que termina com uma frase que me faz todo o sentido depois de ter conhecido o hotel: “Muitos dos nossos hóspedes nem saem para a praia, porque eles querem é desfrutar da natureza, relaxar e cuidar da saúde mental”.

Fica o convite para todos – brasileiros, portugueses e do resto do Mundo: descubram a Toca da Coruja e deixem-se encantar por Pipa, essa joia brasileira que agora brilha mais do que nunca. Uma pousada que é, ao mesmo tempo, um refúgio, uma celebração da natureza e um exemplo de como o turismo pode ser feito com respeito, beleza e propósito.

Por: Sónia Salgueiro Silva


Nascida e criada na cidade de Lisboa, em Portugal, em 2019, decidi sair da minha zona de conforto e embarcar numa experiência de voluntariado no Carioca Hostel, na Praia da Pipa. Mal sabia eu que estava prestes a tomar a melhor decisão da minha vida. Aqueles dias foram os mais felizes que já vivi e permitiram-me descobrir uma nova versão de mim: mais leve, mais livre, mais conectada com o que realmente importa. E percebi, com uma clareza arrebatadora, que tinha encontrado o meu lugar no mundo.

Jornalista de formação, com mais de uma década de experiência em televisão, imprensa escrita e produção de conteúdos, trabalhei como repórter, apresentadora e editora, sempre movida pelo desejo de comunicar com sentido – com verdade, emoção e propósito.

Desde aquela temporada em Pipa, carrego uma certeza: um dia quero deixar Lisboa para trás e viver onde o coração já mora. Porque há lugares que nos escolhem, e Pipa escolheu-me. Como se costuma dizer: amor de Pipa, fica!

Beijinho,
Sónia Silva