Da Gripe Espanhola ao Covid-19 – A fé em São Sebastião narra a história da Pipa

No ano de 1919, a Gripe Espanhola, que devastou milhões de vidas ao redor do mundo, já havia chegado ao Brasil e vitimado muitos – inclusive o então presidente eleito da República Rodrigues Alves. Com medo do que poderia acontecer no seu vilarejo, uma moradora de Pipa, a Dona Chica, fez uma promessa.

Dona Chica era uma mulher muito religiosa. Benzedeira local e devota de São Sebastião. Sabendo que um navio de bandeira espanhola ancoraria na praia de Pipa em plena pandemia de Gripe Espanhola, Dona Chica se agarrou à imagem do seu santo de devoção, e pediu proteção a todos os moradores, com medo do que aconteceria se a doença se alastrasse por aqui. Como promessa, se comprometeu a construir uma capela para o santo soldado – São Sebastião.

O navio ancorou, foi embora e felizmente a Gripe Espanhola não fez nenhuma vítima.

Como em um conto infantil, a primeira capela foi feita de palha. E nela foi colocada a imagem de São Sebastião. A chuva derrubou a estrutura, mas a imagem permaneceu. A segunda capela foi feita de tábua. Mas assim como a primeira, não resistiu à força do tempo. A imagem novamente permaneceu. Foi então que a população se reuniu para ajudar a manter a palavra de Dona Chica. Como em uma procissão, os moradores iam da Praia do Centro até a Praia das Minas para coletar pedras para fazer o alicerce da igreja.

A obra começou em 1952 e terminou em 1955. A igrejinha foi feita pelo povo, como uma demonstração de agradecimento ao santo que os protegeu de uma pandemia. A igreja é localizada no largo que também recebeu o nome do santo protetor da Pipa, o Largo São Sebastião. Ponto central das praias do centro, visitado por milhares de turistas anualmente, e referência para os moradores.

Crédito da foto: Gabriella Barbosa

Cem anos depois das orações de Dona Chica, Pipa continua a pedir proteção contra um novo obstáculo. E como demonstração de fé, a bandeira de São Sebastião está hasteada em frente à igreja e assim permanecerá até a pandemia de Covid-19 não ser mais uma ameaça aos moradores pipenses.


A imagem original, centenária, continua na igreja, intacta. Como símbolo da resiliência de um povo.

Imagem original – crédito da foto: Gabriella Barbosa

Dona Chica pode ser uma personagem folclórica ou não, mas mantém a esperança de que a Praia da Pipa vai ser preservada, assim como em tempos passados.

Texto escrito por Fernanda Monteiro
Jornalista e Moradora de Pipa

Colaboraram para essa matéria: Padre Luciano Freitas, Yuri Luan Ferreira Caetano, Sávio Santos da Costa e Gabriella Barbosa.

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